Daqui a quatro meses este blogue vai passar a chamar-se:
"Crónicas de uma doutoranda a quem acabou a bolsa FCT, com várias experiências para fazer e a caminho da banca rota (e com sérias possibilidades de nunca vir a ter o grau)"
Hoje tive reunião com os meus orientadores (três) para os pôr a par do trabalho feito nos últimos seis meses, daquilo que ainda falta fazer e, do facto de faltarem apenas quarto meses para a minha bolsa de doutoramento acabar (essencialmente foi para actualizar o chefe, visto que as outras duas estão a par da coisa).
Enquanto fui explicando aquilo que tenho feito, as várias linhas de trabalho e aquilo que ainda falta fazer correu tudo bem. Ele lá foi dizendo que sim, que era boa ideia, que podia fazer o que propunha, e que achava tudo muito bem. Que devia voltar à Suíça para acabar o trabalho, que é uma pena perder o que fiz lá, porque pode muito bem dar um artigo científico...
Ideias para o trabalho? Solução para os problemas? Input?... Zero! O que a esta altura do campeonato já não me surpreende
No final lá se falou no assunto tabu... faltam quatro meses para a bolsa acabar, mas ainda há trabalho para fazer que se estende além desse tempo, quatro artigos e meio para escrever (dependendo do resultados, têm que ser cinco e não há excepções), um artigo de revisão e ainda(momento 1, 2, 3)... uma tese! Quando a bolsa da FCT acabar pagam-me ou não?
E a resposta foi um redondo "Não! As regras são assim e não há excepções" (excepto para pessoas que nunca conseguiram ganhar bolsa FCT e estão a ser pagas há quase seis anos!!! Mas isso é apenas um pormenor, não é uma excepção!)
Eu sei há muito que isto era o óbvio, que é o que tem vindo a acontecer com a maioria dos meus colegas mas, apesar da descrença havia sempre uma réstia de esperança, que ele tivesse noção que, quando a bolsa começou eu não tinha os equipamentos que precisava para avançar com o plano a que me propus e que eles se responsabilizaram. Que só no final do segundo ano adquirimos um equipamento crítico para avançar com as coisas. Também gostava que ele ficasse entusiasmado com o projecto, que percebesse os avanços, que visse o potencial. De que me adianta a mim e a ele ficar com uma série de projectos a meio?
No fundo este "não" traduziu-se num "Estou-me a borrifar para ti e para a merda do teu trabalho! Se não trabalhares de graça até acabares quem fica sem o grau és tu! Eu perco a possibilidade de ter mais cinco artigos no currículo, mas o que é isso num universo de 120 pessoas? Basicamente eu quero é que tu te fodas!"
Agora a questão que se coloca é "O que é que eu vou fazer à minha vida?"
p.s.: Vou só ali aninhar-me num cantinho e chorar, que passei o dia todo armada em forte.