Há dias em que me questiono, “O que estás tu a fazer em Braga?”, dou por mim a fazer contas, a pesar os prós e os contras e lá acabo por me convencer que tomei a decisão certa. Afinal de contas, era o que eu queria, fui eu que procurei e a escolha foi minha, só minha.
Hoje é um desses dias, em que me questiono, não só porque raio escolhi trabalhar em Braga mas também porque me meti num curso que nem sequer dá para uma profissão a sério?
Estou farta desta ausência de horários, é muito bom poder ter a oportunidade de ficar mais 30 minutos na cama de manhã, porque ninguém nos vai chamar à atenção ou poder sair mais cedo quando é preciso, no entanto, há sempre a possibilidade de ter de ficar mais duas, três, quatro ou mais horas para além do aceitável porque o raio da experiência não correu como previsto, porque o tempo é pouco e o trabalho tem de se feito. Já sem falar dos fins de semana, feriados de trabalho grátis. Quero um trabalho com horário de entrada e de saída, que não me persiga depois de picar o ponto, que me deixe dormir sossegada, sem me atormentar os sonhos! Quero poder sair com a luz do dia, ”faltar” aos fins de semana, sem me sentir culpada porque podia ficar mais umas horas e fazer mais coisas.
Estou farta de conviver com diabos, e diabos que se fazem passar por anjos, de hipocrisia, de futilidades, de pensar o que digo e a quem digo, porque “aqui não existem segredos”, de pensar duas vezes antes de ser amiga de alguém, porque o conceito de amizade varia consoante os interesses.
Estou farta de sorrisos forçados e de fingir que estou feliz (o mínimo para não me tornar insuportável às pessoas que me rodeiam), hoje não me apetece…
Hoje é um daqueles dias em que apetece “mandar tudo às ortigas”, quero lá saber de doutoramento, publicações, micro e nano coisas que mal se vêem, que não servem para nada, hoje, e muito provavelmente não servirão para nada amanhã!
Vivo na ilusão de que o que faço é importante, e que um dia (longínquo) irá contribuir para ajudar alguém, e que nem que seja apenas uma pessoa, irá valer a pena. Tretas! Não passa disso mesmo, uma ilusão!!!
A minha avó é que tem razão, ela que cada vez que me vê pergunta o que faço, e após a minha resposta volta a perguntar “ E isso serve para alguma coisa?”. Está coberta de razão a senhora nos seus 80 anos de sapiência. “Não serve para absolutamente nada, avó!” é o que lhe responderei da próxima vez. Afinal de contas, para ela pouco importa o porquê e para quê, desde que me paguem e que não seja nada imoral.
12 comentários:
Claro que serve! Não te deixes derrubar, pequena cientista! É mau estar longe de casa mas podia ser pior! Há um miúdo da minha família que está precisamente na tua situação. Mas já esteve no estrangeiro 3 anos. E sabes o que te digo? Se tivesses esse outro emprego pelo qual suspiras ias estar a dizer as mesmas coisas! E pessoas hipócritas e mázinhas também estão por todo o lado, assim como algumas maravilhosas!
Beijinhos encorajadores!
A "pedido" da grande blogueira Malena... cá estou para mostrar..o meu apoio...perante a tua situação... estar longe do nosso habitat natural é deveras dificil... estar longe...e ainda pra mais "escrava" de um trabalho...ocupação...deve ser ainda mais dificil de suportar... é a primeira vez que por cá venho... não te conheço em nada... mas se for necessário...uma companhia...um estranho para desabafares...cá estou...e realmente podias estar em sitios bem piores...Braga é uma cidade lindissima...com pessoas excelentes... e têm calma melhores dias...virão e concerteza um dia o teu trabalho...o teu curso vai ter alguma saída...
Beijo...
Não te ofereço um bagacito pois presumo que não seja do teu interesse.
Mas quem dá o que tem, a mais não é obrigado.
Mais a sério:
Braga parece-me uma boa cidade para se residir. Minimamente moderna e com uma história mais do que milenar!
Quanto à saída profissional, a experiência diz-me que as coisas surgem quando menos se esperam...
Dá-lhe gás!
Olá Dani,
não me conheces. Não sabes quem eu sou, o que faço, quantos anos tenho etc e é irrelevante.
Cheguei ao teu canto por intermédio de uma outra pessoa.
Não sou cão pisteiro, por isso, mesmo com um odor forte fico-me quieto, mas, agora, vindo de quem vinha não podia deixar de seguir a pista.
Li apenas dois,três textos, incluindo este.
Sabes DAni, já trabalhei em trabalhos com entrada de hora e de saída, mas sabes, esgotava-me muito mais do que o tipo de trabalho que agora tenho e que, de algum modo se parece com o teu. Também eu, como tu, levo montes de trabalho para casa e, não julgues que estando noutra profissão que não levas. levas, garanto-te.
Estás a fazer um doutoramento ao que percebo. Muitos invejar-te-ão,pela coragem e determinação, pela proeza que é, com a tua idade ir viver para "fora", para perseguir um desejo, uma vontade, um sonho vá. eu invejo.
terá razão a tua avó que já viveu mais que nós dois juntos, acredito. Mas já lhe perguntaste ou já falaste dos sonhos dela quando nova? ela, provavelmente não teve a hipótese que estás a ter, que desejaste e onde estás a fazer o que fazes, vergando, contrariando o que no ver da tua avó seria o fluir natural das coisas. Sem desprimor para a tua avó, os teus 25 anos e a tua vida já nao pode ser encarada e "planeada" como o era quando a tua avó tinha 25 anos. por isso, não concordo com a resposta que dizes darás numa próxima a tua avó.
por falar em planear! tiraste o curso que gostaste? óptimo!!!! gostavas de fazer um doutoramento? estás a fazê-lo?! óptimo. aproveita a energia que se tem com 25 anos, daqui a menos do que tu planeias já não terás paciência para uma coisas dessas e, cara amiga, aproveita agora que tens essas energias, porque o saber não ocupa lugar. Não adianta de nada!! e então???faz isso depois se verá.
e agora para teres uma noção de como estou a falar com conhecimento de causa cara amiga, sou licenciado em filosofia e frequento um curso de filosofia e literatura. Concebes algo mais desprezível e inútil?mas sabes, sinto-me satisfeito de ter tirado licenciatura na área que sempre desejei e de estar a frequentar um curso numa área que gosto. Mesmo que não sirva para nada.
Ao menos, como diz o meu escritor favorito, terei algo para entregar À morte e tu, como és mais nova que eu, terás para entregar a muita mais gente, incluindo tu.
Ainda estou sem reacção, a assimilar tantos comentários...
Malena: Como escrevi no teu 'canto' e repito, Tu não existes!!! Criar um movimento?! Sem palavras!
A quem seguiu a 'dica' da grande Malena e se deu o trabalho de vir aqui espreitar os meus devaneios, o meu Muito Obrigada.
Eu Sou Eu: Obrigada pelo ombro amigo. Tens razão, Braga é uma bela cidade com óptimas pessoas, o pior é quando a cabeça e o coração querem estar noutro sítio.
Rei da Lã: Um bagacito não faz o meu gosto, mas uma ginginha de Óbidos... a essa nunca digo que não. :p
A cidade, ao contrário do que pensava, não tem sido problema. Apesar de estar habituada a viver em Lisboa, não estranhei a 'pequenez' de Braga, considero uma cidade bastante acolhedora. Vou empenhar-me um pouco mais aqui na minha tarefa. ;)
Olá João,
Não desfazendo as restantes mensagens de apoio, devo dizer que a tua me fez parar para pensar, e por isso (e dada a dimensão do comment anterior), achei que "merecia" uma resposta em separado.
Bem sei que esta história do trabalho perfeito não existe, e que por mais que mude eu vou ser sempre a "eterna insatisfeita", é mais forte do que eu. Felizmente faço o que gosto, no sítio onde escolhi, sei que sou uma sortuda e isso deveria ser motivo de alegria, mas por vezes isso não basta. Há alturas em que as coisas correm menos bem a nível pessoal, e são essas coisas que me fazem questionar a vinda para Braga e que lavam a questionar a utilidade do meu trabalho. Às vezes não dá em nada, outras resulta em posts que nunca chegam a ser publicados, porque a escrita por si só cumpriu a sua função de escape, outros como o de hoje acabam aqui.
Descrita nas tuas palavras, imagino-me forte, lutadora, destemida, palavras vãs que descrevem outro alguém, que não eu. Eu sou apenas uma estudante de doutoramento (mais uma entre muitos) que julgou que este era o passo mais acertado depois da licenciatura para continuar a fazer ciência. A ver vamos se foi a escolha certa.
Quanto à minha avó (esta em particular) muito pouco há a fazer, ela parou no tempo em que ter uma boa profissão era ser Professora, Médica, Enfermeira, Juíza e afins... bioquímica está um pouco longe desse ideal. :p
Confesso que se alguém me dissesse que era licenciado em filosofia, só me ocorria pensar na via ensino (um pouco preconceituoso talvez), mas "desprezível" e "inútil" concerteza não fariam parte do meu julgamento. Tens razão, não te conheço, mas sei agora que és licenciado em filosofia e que gostas e que as tuas palavras são inspiradoras e motivantes. Obrigada João!
Dani, eu por acaso não gosto muito da escrita por isso não vou escrever muito erá só para dizer-te que tu podes, eu sei que estás a fazer um gran sacrificio e sei que há dias nos quais não sabes se "merece la pena" mas merece mesmo :)Se precisasses alguma coisa é só dizer. Bss :) E
Cheer up!!!
Estherzinha: Obrigada pela forçaaa e pela mensagem no facebook. ;) beijinhos
Demóstenes: Obrigada pela visita e pela força. :p
cara Dani,
por razões que as mesmas que as tuas te levaram a escrever este texto, não sou capaz de articular, neste momento, mais do que, um grandíssimo obrigado pela "atenção particular" que deste ao meu comentário.
Agradece à Malena.
E que, acredita, mas acredita mesmo, sei muito bem o que é isso de colocares essas questões todas. POrque sou de filosofia e não só. (quanto ao não só pergunta à Mãe Malena, ela explica.dou-lhe autorização e ela explicar-te-a bem)
Bjs e votos de tudo a correr-te pelo melhor.
qt as tuas duvidas nãote preocupes, até Madre Teresa admitiu que tinha dúvidas quanto à sua fé.
bjs e sinceramente, felicidades
Olá João,
Mais uma vez obrigada pela força. É incrível o efeito que as palavras de um "estranho" podem provocar...
Não consigo aceder ao teu blog, espero que esteja tudo bem, e que apesar dos "porquês" te mantenhas fiel às tuas crenças.
beijinhos e tudo de bom!
Não consegues aceder ao meu blog porque o fechei. :)
talvez volte a reanimá-lo...não sei.
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